Inselbergues - As rochas ilhadas em terra! - Sobre Geologia

16/07/2017

Inselbergues - As rochas ilhadas em terra!


Foto panorâmica da região de Itatim-BA. Foto por Rafael Ladeia.

No artigo dessa semana, falaremos sobre uma feição geológica um tanto quanto curiosa! Como um icebergue, mas sem gelo, e como uma ilha, mas no meio do continente, eis que surgem os inselbergues!



Inselbergue das Tocas, na Bahia. Suas escavações são naturais,
causadas por intemperismo. Foto por Isabela Rosario.

Introdução



Inselbergues são feições tipo relevo residual, caracterizadas por serem uma elevação topográfica que se destaca numa área aplainada. Isso se dá por serem mais resistentes às ações intempéricas e erosivas (como à água, vento e vegetação, por exemplo), tanto pela natureza da rocha quanto pelo ambiente em que se encontram.

É por isso que esse relevo lembra pequenas “ilhas” rochosas. No entanto, ao invés de estar rodeado de mar, está em meio a um relevo aplainado, chamado "pediplano".

Pediplano na região da cidade de Itatim - BA.
Foto do Google Earth. Coordenadas: 12°48'33.24"S 39°47'23.21"O.


História


Sua aparência remete à forma de icebergues no mar, por isso o nome parecido. Analisando a origem da palavra, o termo inselberg vem do alemão, significando “monte ilha” — sem precisar de mais explicações.

O primeiro estudioso a introduzir o verbete foi o geólogo alemão Wilhelm Bornhardt. Bornhardt também é responsável pela primeira prova da existência de depósitos de carvão nos territórios que constituem a atual Tanzania, e possui um mineral e um tipo específico de inselberg nomeado em sua honra.


Formação



Os inselbergues são formas resultantes da evolução de um relevo por erosão específica de clima seco, característico do domínio morfoclimático semi-árido. A influência do índice pluviométrico, insolação e taxa de evaporação são fatores importantes para a evolução dessas formas.

Esse clima é um dos fatores mais característicos de influência à formação dos relevos residuais, entre outros critérios de evolução da pediplanação e evolução do relevo. As chuvas mal distribuídas e rios intermitentes geram solos menos espessos e vegetação rarefeita, facilitando o ataque erosivo ao relevo.


Além disso, as grandes amplitudes térmicas diárias fazem com que os minerais dilatem durante o dia e contraiam durante a noite, fazendo com que ocorra a desagregação mecânica da rocha — "termoclastia" (CASSETI, 1994).

Inselbergue da Ponta Aguda, na Bahia, apresentando diversas
fraturas e marcas de termoclastia. Foto por Isabela Rosario.


Os Inselbergues de Itatim


Segundo o Ministério da Integração Nacional, o semi-árido brasileiro apresenta precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros, e um balanço hídrico onde a taxa de evaporação se sobrepõe à taxa de precipitação.

É por isso que, quando se trata do Brasil, existem diversos exemplos desse tipo de relevo, principalmente nas regiões de clima semi-árido. É indispensável dizer que o Brasil possui a honraria de ter em seu território o maior sítio geológico de Inselbergs do mundo, na cidade baiana de Itatim, onde essas feições têm entre 280 e 300 metros.

A maior concentração mundial de inselbergues em Itatim-BA.
Foto por: Geraldo Marcelo Lima.

Nessa área, há uma presença massiva de rochas metamórficas, justificada pela sua localização. A região está no limite entre os blocos Jequié e Itabuna-Salvador-Curaçá(Fig. 1), que se colidiram num movimento "transpressivo"(Fig. 2), e hoje fazem parte do cráton de São Francisco.


Fig 1. Colisão entre os blocos Jequié e
Itabuna-Salvador-Curaçá.
Fonte:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0001-37652002000200009

Devido a essa composição cristalina, não é de se surpreender que essas feições residuais sejam tão resistentes ao intemperismo (ao menos em comparação com as outras rochas ao seu redor), mantendo-se com a altitude admirável por muito tempo.


Fig 2. Modelo representativo de um movimento transpressivo,
no qual duas forças simultâneas agem em direções diferentes
sobre um mesmo corpo: as forças de compressão e de cisalhamento,
resultando em um movimento 'oblíquo'.
Fonte: By GeoAsh - Own work, CC BY-SA 4.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=45723849


Problemas Sociais em Itatim


Entretanto, um dos maiores perigos que rondam os inselbergues do sítio de Itatim, é a lavra. O Pedra de Itibiraba, no município de Itaberaba, evidenciam que houve ocupação no sítio de Itatim há tempos bem mais longínquos do que o século XVIII, após a colonização europeia, quando a região voltou a ser povoada. Além disso, a própria formação geológica já é um monumento natural.

“Não há como afirmar se essas lavras são extraídas a partir dos inselbergs, mas é importante salientar que para conceder o direito de lavra é necessário, entre outros documentos, a licença ambiental emitida pelo órgão ambiental ou pela prefeitura, caso tenha competência para emitir o documento. Compete ao órgão ambiental definir se os morros do tipo inselbergs podem ser minerados”, ressalta Lima, que atua na superintendência baiana do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

O que acontece, muitas vezes, é que o sustento da população das cidades vizinhas é todo voltado para a extração das rochas dos inselbergues. Segundo o IBGE, o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de Itatim foi, em 2010, de 0,582. Em comparação com Salvador, cujo IDHM foi calculado como sendo 0,759, é necessário considerar que essa população precisa buscar uma fonte de renda em algum lugar.



Conclusão



Um inselbergue pode ser uma fonte de gnaisses, britas ou rochas ornamentais. Pode ser como monumento histórico e turístico, como o inselberg Pedra de Itabiraba, no município de Itaberaba, que possui pinturas antigas e é muito procurado por escaladores. Pode ser objeto de estudos geológicos, e uma maneira de evidenciar acontecimentos da proporção de uma colisão entre grandes blocos rochosos.


Seja como for, mesmo aos olhos dos que não entendem como aquelas rochas foram parar lá no alto, é uma feição linda de se ver. Leigo ou geólogo, você perderia o ar só de estar de frente para um relevo tão majestoso (e intrigante) quanto esse!


Inselberg da Pedra da Galinha Choca, na cidade de Quixadá - CE.
Foi nomeado assim por sua aparência se assemelhar à de uma ave.
Foto: Domínio Público.


Referências:


  • http://www.uesb.br/eventos/ebg/anais/4j.pdf, acessado em (30/04/2017)
  • http://www.mi.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=0aa2b9b5-aa4d-4b55-a6e1-82faf0762763&groupId=24915, acessado em (30/04/2017)
  • http://bahiaciencia.com.br/2015/07/imensamente-cenicos/, acessado em (30/04/2017)
  • http://www.twiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20101/judiron_santiago__2010.pdf, acessado em (30/04/2017)
  • http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=291685&idtema=118&search=bahia|itatim|%C3%8Dndice-de-desenvolvimento-humano-municipal-idhm-, acessado em (15/07/2017)
Escrito por Isabela Rosario
Editado por Rafael Ladeia

Um comentário:

  1. É por isso que esse relevo lembra pequenas “ilhas” rochosas. No entanto, ao invés de estar rodeado de mar, está em meio a um relevo aplainado, chamado "pediplano".

    BOM DIA!!!
    OS INSELBERGS SÓ ACONTECEM EM RELEVOS APLAINADOS? NAO EXISTEM INSELBERGS NA SERRA DOS ÓRGÃOS POR EXEMPLO?

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