Geologia Ambiental - Uma breve introdução - Sobre Geologia

13/08/2017

Geologia Ambiental - Uma breve introdução


Com o avanço tecnológico, as sociedades mundiais foram se dando conta de que, por mais que o progresso fosse uma meta, o cuidado com o meio ambiente e a racionalidade na utilização dos recursos naturais não deveriam ser deixados de lado. Assim, junto com outras ciências sustentáveis, nasce a Geologia Ambiental.

No artigo de hoje, falaremos sobre esse ramo tão importante da geologia. À partir dele, são realizados estudos geológicos aplicados ao meio ambiente, observando sempre a relação do homem com a superfície da Terra, e suas consequências.

Evolução X Sustentabilidade: O dilema que a Geologia Ambiental tenta amenizar.

Introdução


A geologia ambiental é uma ciência em crescimento, que vem se expandindo muito nas últimas décadas em decorrência da busca de práticas mais sustentáveis. À partir da consciência ambiental que surge principalmente na década de 1970, floresce a ideia na mente das pessoas de que o bem-estar social está, sim, relacionado ao nosso ecossistema.

O impacto do desenvolvimento industrial ao ecossistema é
algo de grandes proporções.

Os estudos geoambientais interagem com diversas áreas de conhecimento, como biologia, medicina, ecologia, química, sociologia e muitas outras, sempre buscando uma relação saudável entre a sociedade e a superfície da Terra.

A relevância desses estudos está diretamente ligada ao planejamento territorial e gestão ambiental. Seu objetivo muitas vezes é proporcionar a quaisquer indivíduos ou administradores de alguma área uma gama de informações sobre determinado território e como ele pode se comportar quando ocupado e/ou utilizado.

Esses estudos e pesquisas são muito importantes para áreas como a engenharia e a mineração, que podem afetar drasticamente o ambiente e também o bem-estar da sociedade, além dos planejamentos do Estado de como ocupar espaço físico.

Para erguer um prédio, por exemplo, um engenheiro não pode iniciar o projeto sem a comprovação de que aquele terreno está preparado para receber o peso de uma edificação. É por essa razão que prédios e casas não podem — ou não deveriam, pelo menos — serem construídos em encostas.

Tragédia ocorrida em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 2010,
resultou em mortes dos moradores locais. Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr - Agência Brasil,
CC BY 3.0 br, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=8933541

Os Mapas de Risco


Reunindo análises sobre substrato rochoso, água, solos, relevo, vegetação, ocupação e diversos outros fatores, o geólogo ambiental pode reconstruir a situação geológica dos locais. Desse modo, é possível elaborar os chamados mapas (ou cartas) de risco.

Os mapas de risco são, basicamente, um grande resumo das condições geológicas ambientais de algum território. Por meio de intensa pesquisa e coleta de informações, o mapa mostra as áreas que podem estabelecer risco para grupos que possam vir a ocupar o terreno, ou empresas que venham a explorá-lo.



Exemplo de uma carta de risco baseada nos aspectos geomorfológicos do local.
Fonte: ITCO - Planejamento Ambiental.


O Geólogo Ambiental


Desse modo, o trabalho do geólogo ambiental nunca é simples. Contempla tanto o conhecimento técnico do meio físico, quanto os mecanismos de gestão ambiental, e a utilização da cartografia, com os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e bancos de dados. É um campo de atuação amplo, e que exige muita pesquisa da parte do profissional.

Na situação da mineração, por exemplo, é fato que a extração sempre irá atacar o meio ambiente. Seja por meio da retirada da fauna e flora locais, ou da escavação das minas subterrâneas, sempre se afeta o ecossistema ao redor.


Mesmo assim, o que a geologia ambiental busca é orientar a tomada de decisões para que os danos resultantes sejam os menores possíveis. Evitar assoreamento (aumento da quantidade de sedimentos no rio, o que dificulta o escoamento das águas) ou contaminação de rios, inundações ou quaisquer outros efeitos desses processos de exploração dos recursos naturais.
As áreas mineradas podem receber diversos efeitos negativos. Desde a remoção do solo e da vegetação, passando pela modificação da qualidade da água (rios, lagos ou mesmo águas subterrâneas), até modificações graves do meio físico.


Mina de Águas Claras, localizada no município de Nova Lima (MG), desativada em 2002.
A lavra se aprofundou tanto que interceptou o nível de água subterrânea, inundando a mina.
Foto por: Miguel Andrade.

Além de evitar danos graves, os profissionais da mineração devem se preocupar em como haverá a recuperação dessas áreas. O planejamento de recuperação deve sempre ocorrer antes mesmo que haja a implementação do empreendimento, buscando evitar prejuízos de grande escala no ecossistema.

Legislação Ambiental e Programas Governamentais


Por isso existem os chamados Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e os Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA), documentos técnicos multidisciplinares que avaliam a situação dos impactos ambientais em determinadas áreas e indicam como evitá-los o máximo possível.


Esses estudos são exigidos por lei antes do início de qualquer atividade que gere significativa degradação ambiental. Segundo o Art. 225, § 1, inciso IV da Constituição Federal Brasileira de 1988, para assegurar o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, deve-se: “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.”

Além disso, claro, algumas áreas estabelecem risco para populações mesmo sem nenhum tipo de exploração dos recursos. É por isso que existem os programas como o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, criado pelo governo federal em 2012.

O projeto, o qual o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) integra, busca garantir segurança às populações que vivem em áreas suscetíveis a ocorrências de desastres naturais. Uma das atribuições da CPRM nesse projeto é mapear as áreas de risco geológico, e observar, principalmente, onde há risco de movimentos de massa e inundações.

No Brasil, segundo o Ministério do Planejamento, em 2012, 162 milhões de reais foram destinados para o mapeamento dessas áreas, com prioridade em 821 municípios brasileiros. “O eixo engloba ações voltadas aos municípios mais atingidos e com maior histórico de danos humanos causados por desastres envolvendo deslizamentos, enxurradas e inundações.”, afirmou o Ministério.

A Importância da Geologia Ambiental


A geologia ambiental é mais do que necessária nos dias de hoje. Apesar da sede humana pelo progresso, nunca devem ser deixadas de lado as questões que envolvem a vida ou o equilíbrio de um ecossistema. O preço do avanço tecnológico nunca pode ser pago pelo meio ambiente.

No futuro, traremos mais debates sobre os impactos ambientais, e das diversas aplicações da geologia ambiental. Não se deve fechar os olhos para a degradação dos recursos naturais, nem aos danos à vida.


A ciência pode, e deve, ser sustentável.

Referências

  • http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/1283/3/Tend%C3%AAnciasParte1.3.pdf, acessado em 11 de agosto de 2017
  • http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Geologia-de-Engenharia-e-Riscos-Geologicos/Geologia-de-Engenharia-e-Riscos-Geologicos-47.html, acessado em 11 de agosto de 2017
  • http://www.pac.gov.br/noticia/c1619715, acessado em 12 de agosto de 2017
  • http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Geologia-de-Engenharia-e-Riscos-Geologicos/Setorizacao-de-Riscos-Geologicos-4138.html, acessado em 12 de agosto de 2017
  • http://www.teclim.ufba.br/site/material_online/monografias/mono_irineu_a_s_de_brum.pdf, acessado em 12 de agosto de 2017
  • https://www.senado.gov.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_225_.asp, acessado em 12 de agosto de 2017

Escrito por Isabela Rosario e
editado por Rafael Ladeia.


Agradecimentos especiais à professora e atual coordenadora do Departamento de Geologia e do Curso Técnico, Integrado em Geologia do Instituto Federal da Bahia - IFBA campus Salvador, Priscila Gonçalves, pelo suporte bibliográfico para confecção desse artigo.

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