Geologia Médica - Uma Introdução - Sobre Geologia

20/05/2018

Geologia Médica - Uma Introdução



 E se uma ciência da Terra se unisse às ciências ambientais e às da vida? É isso que ocorre com a Geologia Médica, que é o tema do post de hoje!
A geologia médica é uma ciência recente, que visa compreender a relação entre fatores geológicos e ambientais com a ocorrência de enfermidades que acometem a população de uma determinada região. Além disso, a geologia médica é vista como uma ciência interdisciplinar, pois vale-se da colaboração de profissionais de diversas áreas, como geólogos, toxicologistas, biólogos, agrônomos, químicos, médicos, veterinários, entre outros. Esse trabalho conjunto é fundamental para a adoção de medidas preventivas no quesito dos malefícios à saúde dos seres vivos tanto pela exposição excessiva quanto deficiência de elementos químicos presentes no ambiente, seja em decorrência de fatores naturais ou antropogênicos.



Sabemos que os seres vivos modificam e ao mesmo tempo são influenciados pelo ambiente onde estabelecem suas interações. Os solos, que são palco de diversas interações biológicas, são constituídos basicamente pelo intemperismo das rochas e, consequentemente, refletem o quimismo destas. Os elementos químicos presentes em um solo estarão presentes nos vegetais ali cultivados e nos animais silvestres que os consumirem. Através desse consumo, por meio das águas que transpassam os solos e as rochas e pela inalação de gases e poeiras expelidos através de processos geológicos, diversos elementos químicos chegam aos organismos dos seres vivos. Dentre os elementos químicos conhecidos, vinte e cinco são considerados essenciais para os seres humanos, sendo o carbono (C), oxigênio (O), hidrogênio (H) e nitrogênio (N) os mais importantes, por participarem da estrutura do DNA e de proteínas, além de outros processos fundamentais para o funcionamento do organismo humano. Os outros vinte e um elementos essenciais são classificados em macronutrientes (Ca, Cl, P, K, Na, S) e micronutrientes (Mg, Si, Fe, F, Zn, Cu, Mn, Sn, I, Se, Ni, Mo, V, Cr, Co). Outros elementos – apesar de não essenciais – podem ser absorvidos e depositados no corpo humano através de sua ingestão ou inalação, como o Al, Ba,Cd, Pb, As, Hg, Sr, U, Ag e Au e podem ser danosos à saúde, se presentes em alta concentração.




Fonte: PGAGEM, CPRM.



A contaminação por arsênio (As) em Bangladesh

A partir da década de 70 a população de Bangladesh, país asiático, foi exposta a elevados teores de arsênio com a perfuração de poços pelo governo, que levariam água com melhor qualidade para habitantes da zona rural. No entanto, a análise das águas dos poços mostrou que 50 microgramas de As é encontrado para cada litro de água nos primeiros 150m de profundidade. A exposição a elevadas concentrações de arsênio está associada a doenças como o câncer de pele, problemas no sistema nervoso, medula óssea, fígado e coração.

A fonte de arsênio é natural, o elemento encontra-se nos minerais constituintes das rochas, principalmente em óxidos de ferro e sulfetos, como pirita e arsenopirita. Na estrutura desses minerais o arsênio não representa um problema, mas sim quando liberado em solução devido a redução dos óxidos e hidróxidos de ferro pela ação de bactérias.


Imagem: contaminação por As, disponível em:
http://professoralucianekawa.blogspot.com.br/2014/08/bangladesh-o-maior-envenenamento-por.html



A geologia médica no Brasil

No Brasil, a geologia médica teve um maior crescimento a partir de 2003, com a criação do REGAGEM (Rede Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica) e a realização do PGAGEM (Programa Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica). Vários trabalhos em várias regiões brasileiras foram realizados a fim de estudar mais detalhadamente as suas condições geoquímicas e os possíveis danos à saúde relacionados, como no nordeste do Pará, que apresentou altos teores de chumbo e alumínio; em Lagoa Real, na Bahia, onde os teores de urânio na água subterrânea utilizada para consumo ultrapassaram os valores máximos permitidos; em Lavras do Sul (RS), as amostras do solo apresentaram contaminação proveniente das atividades mineradoras pretéritas, com concentrações elevadas de prata, arsênio e cobre.


A geologia médica é uma ciência inovadora e apesar de recente, revela a sua importância para a melhor compreensão e utilização do ambiente e desenvolvimento de medidas em acordo com os setores da saúde pública e conscientização dos moradores de áreas contaminadas.



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Referências: 


https://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Geologia-Medica-41 acesso em 19/05/2018

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/04/vinte-milhoes-de-pobres-bebem-agua-contaminada-em-bangladesh.html acesso em 20/05/2018

http://professoralucianekawa.blogspot.com.br/2014/08/bangladesh-o-maior-envenenamento-por.html acesso em 20/05/2018

http://www.cprm.gov.br/publique/media/gestao_territorial/geologia_medica/slides_palestraII.pdf acesso em 20/05/2018

DA SILVA, Cássio Roberto et al. (Org.). Geologia médica no Brasil: efeitos dos materiais e fatores geológicos na saúde humana, animal e meio ambiente. Rio de Janeiro: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2006. 220 p. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/didote/pdf/Geologia_medica_Brasil.pdf>. Acesso em: 17 maio 2018.

http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=129 acesso em 18/05/2018

http://www.sbpcnet.org.br/livro/60ra/textos/CO-BernardinoFigueiredo.pdf acesso em 18/05/2018


Artigo escrito por Amanda Couto e revisado por Isabela Rosario

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