A mineração é de extrema
importância para as diversas necessidades da humanidade contemporânea, mas, com
o passar do tempo, os minérios tendem a se tornar escassos, independente do
tipo e do local de exploração. É nesse contexto que a mineração em leitos
oceânicos surge – as minas em superfície cada vez menos rentáveis e a
necessidade de metais que segue aumentando.
Mineração oceânica no Brasil. Fonte: http://revistamineracao.com.br/2016/12/02/mineracao-submarina-a-extracao-em-aguas-profundas/ |
Introdução
Mesmo que não seja de senso comum
a existência de metais passíveis de exploração no fundo oceânico, esses depósitos já são conhecidos desde 1870.
A expedição HMS Challenger, responsável por inúmeros conhecimentos da oceanografia
atual, confirmou a existência desses recursos no Mar de Kara, Sibéria.
Entretanto essa exploração
foi considerada economicamente inviável durante anos, principalmente
devido aos caros investimentos que teriam de ser realizados para que a
tecnologia de exploração fosse desenvolvida, além disso, ainda havia grande
oferta de metais oriundos da mineração tradicional.
A partir da década passada a
necessidade de novos depósitos passou a demandar a exploração dos oceanos, até
porque estudos apontam quantidades de minério marinho que se igualam ou
ultrapassam àquelas encontradas em terra. Na zona de fratura Clarion-Clipperton
- uma planície abissal que se encontra do Havaí até a península da Baixa Califórnia
– estima-se que sejam encontradas 76 milhões de toneladas de níquel e 7 milhões
de toneladas de cobalto.
A ISA (Autoridade
Internacional do Leito Oceânico), órgão específico da ONU responsável por
controlar a exploração mineral dos oceanos, passou a conceder licenças em 2016,
hoje, já foram emitidas 28 licenças para instituições de 20 países. Todas
as licenças concedidas no oceano pacífico são na anteriormente citada zona de
fratura Clarion-Clipperton.
Depósitos
Assim como na terra, nos
oceanos os minérios são encontrados em diferentes formas de depósito.
A primeira está relacionada às dorsais meso-oceânicas - elevações topográficas
do fundo do mar com um rift
valley central que se estende no meio dos oceanos (Oceano Atlântico, Oceano
Índico,..) ao longo das bordas de duas placas divergentes onde
está se formando crosta oceânica
(Winge, M.) – onde o magma em contato com a água forma fontes hidrotermais
ricas em minerais como cobre, zinco, chumbo e ouro, sendo então conhecidos como
massivos sulfetos de leito marinho.
Outra forma de depósito são
as crostas de cobalto: elas são produzidas quando os minerais são precipitados
pela água que se acumulam em cumes de rochas duras e flancos de montanhas
submarinas como crostas. Essas crostas crescem de forma muito lenta e hoje são
encontradas em espessuras de 5 a 10 cm. O principal minério encontrado nelas é
o cobalto, mas também podem ser encontrados outros metais como o níquel. Foram
concedidas quatro licenças de áreas com esse tipo de depósito pela ISA, mas
explorar as crostas de cobalto é um desafio porque áreas íngremes são difíceis
de trabalhar e a retirada do minério das rochas é complexa.
O tipo de depósito mais procurado para
exploração é chamado de depósito de nódulo de manganês ou nódulos
polimetálicos, esses nódulos são formados em profundidades de vários mil metros
quando os metais se precipitam e se associam com sedimentos marinhos, o que
forma um núcleo que cresce cerca de 1 cm a cada milhão de anos. Esses nódulos
são encontrados em variadas partes do leito marinho. Em cada nódulo 3%
representa níquel, cobre e cobalto (os principais metais procurados), enquanto
25% é manganês e o restante são sedimentos consolidados sem importância
econômica.
Sistema de mineração oceânica. Fonte: https://eddypump.com/education/subsea-mining-deep-sea-dredging/ (imagem adaptada). |
Mineração
oceânica no Brasil
Inúmeros países já realizam
a mineração oceânica, o Brasil está a caminho. Diversas pesquisas envolvendo
oceanografia, amostragem da água, mineralogia, petrografia e geofísica estão
sendo realizadas na Elevação do Rio Grande - uma grande cordilheira submersa de
3 mil metros de altura em águas internacionais do Atlântico Sul, localizado há
1,1 mil quilômetros da costa do Rio Grande do Sul.
O projeto é comandado pelo
Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) junto com a Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI) e foi aprovado pela ISA em 2014, quando foi concedido ao Brasil o
direito de pesquisar a área durante 15 anos. O estudo tem como objetivo avaliar
áreas de acordo com a viabilidade econômica, ambiental e técnica dos depósitos
minerais encontrados. Os principais metais dos sulfetos polimetálicos que podem
ser encontrados na região são cobalto, níquel, manganês, fosfato e platina.
Área do Elevado Rio Grande. Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/Noticias/Brasil-vai-realizar-estudos-ambientais-na-Elevacao-do-Rio-Grande-4551.html |
Consequências
Ambientais
Toda mineração tem inúmeras consequências
para o meio ambiente terrestre, logo, a mineração marinha não é diferente. Existem
algumas vantagens em relação a mineração terrestre, mas também outras tantas desvantagens.
Como vantagens é possível citar
o fato dos equipamentos de exploração marinha que podem ser facilmente
retirados do oceano assim que a mineração é terminada, diferente de minas a céu
aberto onde as instalações permanecem no ambiente na maior parte das vezes, já que sua restauração
é muito difícil e custosa. Além disso, o fato dos maiores depósitos e de mais
fácil retirada de minério estarem cada vez mais esgotados de metais leva a exploração de
jazidas de mais difícil extração, que tem como consequências um gasto maior de energia e
processos mais degradantes. A mineração oceânica poderia representar a
diminuição dessas consequências.
Por outro lado, é possível observar que os nódulos tão procurados têm a sua maior parte composta de materiais que
não serão aproveitados, logo produzem muitos rejeitos que, normalmente, são descartados
no próprio oceano, o que causa muitos danos a biodiversidade
marinha.
Quando esses rejeitos são
liberados eles se espalham rapidamente porque as correntes marítimas os moverem e, por serem muito pequenos (cerca de 0,2 mm), esses sedimentos se espalham em
quilômetros de distância, podendo chegar a 10 km de distância da área de
mineração. Normalmente, os oceanos não são preenchidos por tantos sedimentos de
uma vez só - a taxa de sedimentação marinha é aproximadamente 1 milímetro a
cada mil anos – então, mesmo que a quantidade de sedimentos seja pouca, já é
muito maior que o normal. Isso sufocaria variadas espécies marinhas em pouco
tempo, causando um grande desequilíbrio no ecossistema marítimo.
Existem microrganismos, como
algumas bactérias, vivem presos aos nódulos e precisam deles para a sua
sobrevivência, os que não morrerem logo após a retirada dos nódulos e nem
sufocados com os rejeitos, viajarão com a nuvem de rejeitos por quilômetros e
também morrerão por não se fixarem mais em nódulos, porque será difícil achá-los,
já que demoram muito tempo para se formar.
Conclusão
O leito oceânico dificilmente
se recuperará das inúmeras degradações que o homem causará com a mineração, mas
ainda não é possível avaliar se esse tipo de mineração causará mais ou menos
impacto do que aquelas que já são realizadas há algumas centenas de anos. O
importante é que todos os países respeitem as leis ambientais estabelecidas
pela ISA na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) em 1982,
mas é preocupante que 14 países-membros da ONU assinaram a convenção, mas não a
ratificaram – entre elas os Estados Unidos – e outros 15 países-membros não a
assinaram.
Em compensação, 167 países e
a União Europeia aderiram a UNCLOS, entre as regras estabelecidas estão que a
empresa que deseja minerar o oceano precisa ser patrocinada por algum desses
países e a área que for levantada para exploração será dividida na metade, a
ISA escolherá qual dessas áreas será separada para que um país em desenvolvimento
realize a exploração.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-43196978
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/05/130519_mineracao_oceano_polemica_rw
http://www.ibram.org.br/150/15001002.asp?ttCD_CHAVE=250960
https://www.isa.org.jm/clarion-clipperton-fracture-zone
http://sigep.cprm.gov.br/glossario/
https://darchive.mblwhoilibrary.org/handle/1912/7753
http://revistamineracao.com.br/2016/12/02/mineracao-submarina-a-extracao-em-aguas-profundas/
http://www.cprm.gov.br/publique/Noticias/Brasil-vai-realizar-estudos-ambientais-na-Elevacao-do-Rio-Grande-4551.html
PEACOCK, Thomas; ALFORD, Matthew H. A Mineração em Mar
Profundo Vale a Pena? Scientific
American Brasil, ano 17, n° 185, p. 66 – 73. Julho. 2018.
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