História da Geologia - Uma Breve Introdução - Sobre Geologia

17/03/2019

História da Geologia - Uma Breve Introdução

Modelo Geocêntrico ilustrado por Andreas Cellarius em sua obra Harmonia macrocosmica seu atlas universalis et novus, totius universi creati cosmographiam generalem, et novam exhibens. (1708)

O método científico é comprovado e verdadeiro. Não é perfeito, é apenas o melhor que temos. Abandoná-lo, junto com seus protocolos céticos, é o caminho para uma idade das trevas.
Carl Sagan

Iniciando esse artigo com uma célebre frase de um dos maiores cientistas do século XX, o Sobre Geologia inaugura uma série de artigos acerca da História da Geologia. Porém, você pode estar se perguntando qual a importância de se estudar a história de uma ciência? A resposta pode ser encontrada na citação acima: o método científico não é perfeito. Ou seja, isso significa que mesmo que muitos pensem que a ciência seja algo estático, que se utiliza somente de teorias produzidas à milênios atrás, na verdade ela se renova a cada nova descoberta, e isso pode acontecer com mais frequência do que se imagina. 

O método científico baseia-se na confrontação de hipóteses, mediante uma análise controlada e regada de provas. Caso a hipótese inicial sobreviva durante todos as etapas de experimentação e confrontamentos, ela poderá ser considerada uma teoria, algo muito mais consolidado, porém, sujeito à alterações. Portanto, a ciência pode ser concebida como uma tentativa de explicar a nossa realidade através do questionamento contínuo daquilo que (aparentemente) entendemos ou não, chegando até mesmo a questionar aquilo que parecia ser inquestionável, porque para o espírito científico, tudo que ainda não foi explicado ainda está para ser descoberto.

Nesse esteio, torna-se de grande importância estudar a história da ciência para saber quais foram as teorias que hoje encontram-se ultrapassadas, quais foram os personagens que corroboraram para a ciência como a conhecemos atualmente, porque as teorias são levantadas e derrubadas ou qual a origem das grandes ideias que são utilizadas até hoje, dentre outros pontos.

Portanto, daremos início a essa jornada na série História da Geologia através desse artigo inicial, no qual daremos uma breve abordagem acerca do caminho a ser tomado nessa pesquisa.

Quando Surgiu a Geologia?


Por ser uma ciência natural que estuda o planeta Terra em seus diversos aspectos e escalas, como podemos saber o exato momento em que a geologia surgiu? Essa pergunta nos leva a um esclarescimento muito importante, que irá delinear todo o escopo metodológico dessa série. Iremos a partir de agora discernir dois conceitos: "saber geológico" e "geologia". O saber geológico se trata dos conhecimentos relacionados ao planeta Terra, enquanto que a geologia deve ser entendida como uma ciência natural, respeitando-se o método científico, que foi mencionado no início desse artigo. O olhar de um cientista da Terra deve ser atencioso e imaginar além do que se poder ver, utilizando-se do método científico para construir conhecimento, e não criar suposições infundadas, diferindo-se do saber geológico nesse ponto.

O olhar geológico. Fonte: https://structuralgeo.wordpress.com/2013/11/20/do-you-sketch-in-the-field/

O Saber Geológico


Mapa com a localização de minas antigas na região do Egito.
Fonte: link
O saber geológico existe desde os primóridos da humanidade, quando os povos da antiguidade percebiam, coletavam informações e elaboravam hipóteses acerca do ambiente natural onde estavam inseridos. Povos do norte africano, do mediterrâneo (gregos e romanos), bem como os do oriente próximo (egípcios, sumérios, assírios, babilônicos) e outros, possuem uma história profundamente ligada aos recursos naturais, além de possuírem a forte presença dos elementos naturais em suas crenças e religiões.

Assim, ao longo de sua existência, tais populações reuniram uma série de conhecimentos acerca do ambiente que os cercavam, variando desde simples observações sobre corpos hídricos à interpretações sobre paleoambientes. As atividades minerárias também promoveram o aprofundamento do saber geológico, pois eram fundamentais para o desenvolvimento dessas sociedades, como já foi explicado no artigo introdutório da série #Mineração.


Confira aqui o artigo #Mineração: Uma Breve Introdução






Idade Antiga

As primeiras observações feitas por esses povos baseavam-se em questões lógicas sobre os mecanismos da natureza, a exemplo dos gregos que já no século V a.C, se questionaram acerca da existência de conchas marinhas em regiões distantes do litoral. Heródoto, pensador grego de mesmo período, também havia postulado que a região do Egito teria sido um golfo em eras passadas, pois já havia percebido que a natureza sempre estava em constantes processos de trnasformação, criação e destruição, transporte e deposição.

O 4 elementos propostos por Aristóteles. Fonte: link
Nessa corrente de investigação do saber geológico, um exemplo de grande importância deve ser lembrado. Aristóteles, um dos maiores pensadores e influenciadores da história da humanidade, dedicou-se a entender diversas áreas da sua realidade, variando desde a filosofia natural até a música e poesia, por exemplo. Na área do saber geológico, Aristóteles realizou diversas observações, propondo a divisão dos quatro elementos naturais (água, ar, fogo e terra), bem como o modelo geocêntrico, no qual o planeta Terra estaria localizado no centro do universo.



Aristóteles. Fonte: link
Ele também dizia que os eventos que ocorriam em subsuperfície poderiam ser equiparados a fenômenos meteorológicos. Os terremotos e vulcões seriam como trovões e relâmpagos, enquanto que o encontro entre daumidade da chuva com ventos subterrâneos dariam origem às tempestades. Uma concepção muito relevante proposta por Aristóteles e que perdurou ao longo de séculos até a chegada da renascença, foi acerca dos fósseis. Ele afirmava que essas feições não teriam correlação com seres animais e vegetais, como hoje entendemos, mas sim com características plásticas do próprio planeta.




Idade Média

Até a chegada do Renascimento no século XV, os conhecimentos acerca do planeta Terra eram bastante unificados e padronizados na cultura ocidental durante toda a Idade Média, principalmente pela Igreja Católica. Tais ideias baseiavam-se no princípio geocêntrico, bem como em uma conexão existente entre o planeta Terra e o restante do universo que regia tanto o meio biótico (seres vivos, animais, vegetais), quanto o meio abiótico (minerais, rochas).

Modelo geocêntrico ilustrado por Bartolomeu Velho, 1568.

A saber, as substâncias minerais, por exemplo, seriam regidos e controlados pela ação dos planetas e estrelas. O ferro, por Marte; chumbo, por Saturno; ouro, pelo Sol; gemas, pela "luz cósmica". Além do geocentrismo, o antropocentrismo foi de fundamental importância para consolidar tais relações entre o ser humano e o seu meio externo. As catástrofes naturais como terremotos e erupções vulcânicas eram consideradas como presságios de catástrofes humanas, bem como os minerais e fósseis detinham poderes medicinais que eram estudados nas obras chamadas de "lapidários" e utilizados para finalidades médicas. Ametista, ônix, berilo e hematita eram alguns dos minerais mais reconhecidos nessas utilidades, e logo abaixo há uma figura de um lapidário de diamantes e safiras do século XIII.

Figura do "Livro dos Segredos", Lapidário escrito por Alberto Magnus no século XIII.
Fonte: https://brewminate.com/the-allure-of-gems-and-jewelry-from-the-medieval-to-modern-era/

O resultado dessas associações oriundas do antropocentrismo e geocentrismo são modos de ver o mundo bem diferenciados dos atuais, através de uma concepção vitalista sobre o meio natural. Um exemplo é a gravura de Johann Lorenz Bausch, um escritor alemão do século XVI, que em uma de suas obras chamada Schediasmata Bina Curiosa De Lapide Haematite Et Aetite, assemelha a reprodução humana com a formação de rochas, como é possível observar na imagem abaixo. Assim, a referência humana como elemento principal na construção de saberes é a principal característica do saber geológico na Idade Média.

Ilustração de Bausch. Fonte: https://www.auction.fr/_fr/lot/bausch-johann-lorenz-schediasmata-bina-curiosa-de-lapide-haematite-et-aetite-ad-8812781#.XI5qtShKjIU

O Renascimento

No Renascimento ocorre uma série de mudanças na história humana, como a prensa de Gutemberg, o que facilitou a difusão de informação de maneira bastante intensa, corroborando na redescoberta de vários autores que tinham sido anteriormente banidos pela Igreja Católica. Foi no renascimento que o espírito científico comecou a ser estimulado e valorizado através da influência do Neoplatônismo, deixando a concepção religiosa e espiritual com uma importância muito menor na construção de saberes e no modo de vida das sociedades.

É durante esse período da história que a geologia, enquanto ciência, começa a ser fomentada. A mineralogia, por exemplo, já existia na época e compreendia algumas das áreas que conhecemos atualmente, como petrografia, paleontologia e química. Nela, a definição de um mineral também foi instituido, caracterizando-os em "objetos inanimados de origem natural, geralmente sólidos e, às vezes, líquidos".

A crosta da Terra era concebida como uma mistura de 4 "classes minerais" (terra, metais, sais e substâncias betuminosas) que, por sua vez, eram produtos de diferentes proporções dos quatro elementos naturais propostos por Aristóteles (água, ar, fogo e terra).

A parte interna do planeta foi pensanda de diversas maneiras e com vários modelos explicativos. No livro "Mundus Subterraneus" do jesuíta Athanasius Kircher (Séc. XVII), o interior do planeta seria atravessado por veias que transportariam água (alimentando rios e nascentes) e fogo (alimentando os vulcões).

Modelo do interior da Terra
proposto por Athanasius Kircher.
Fonte: Alamy.
 Você também pode conferir a obra completa no leitor abaixo, ou acessando esse link





Referências


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. e-aulas: Portal de Videoaulas. História da Geologia 1: Da Grécia ao início do séc. XIX. Curso Evolução das Ciências II. Professora Silvia Figueirôa. Disponível em: <http://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=214> Acessado em 17/03/2019.

BRANCO, Pércio de Moraes. O Geólogo e a Geologia. CPRM. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/O-Geologo-e-a-Geologia-1116.html> Acessado em 15/03/2019.

NSW DPI PRIME FACTS. History of Geology. Disponível em: <https://www.resourcesandenergy.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/109580/history-of-geology.pdf> Acessado em 15/03/2019.

SÓ HISTÓRIA. Divisões/Períodos da História. Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/periodos/> Acessado em 15/03/2019.






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