Rios (parte 1): Classificação de Rios - Sobre Geologia

31/03/2019

Rios (parte 1): Classificação de Rios

As grandes civilizações sempre estiveram relacionadas a grandes rios. Os egípcios se instauraram na região próxima ao Rio Nilo, enquanto os mesopotâmicos entre os rios Tigres e Eufrates, por exemplo. Isso se deve principalmente às planícies de inundação, áreas férteis que tornavam propícia a agricultura. Os rios ainda são de extrema importância para a humanidade: são meio de transporte, fonte de alimento por conta da pesca, garantem a energia das hidrelétricas (a principal fonte de energia do Brasil) e são fontes de água potável.
Porém, a importância dos rios não se resume às atividades humanas. Geologicamente falando, rios são responsáveis pela erosão, transporte e deposição de sedimentos, logo um dos principais agentes modeladores do relevo. Nessa série de artigos serão tratados diversos assuntos envolvendo rios e drenagens: classificações de rios, processos associados a eles (processos aluviais) e seus depósitos (depósitos aluviais). Nessa primeira parte, serão tratadas definições iniciais e as classificações dos rios e bacias de drenagem.
Bacia Amazônica, uma das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras.
Fonte: http://meioambiente.culturamix.com/natureza/a-bacia-amazonica
Definições
Rios são os principais componentes das bacias de drenagem, que, por sua vez, são sistemas de vales por onde fluem e escoam águas superficiais. Essas águas podem ser córregos, rios, riachos, lagos e lagoas. As drenagens fluem até atingirem o seu “nível base”, que pode ser definido como o ponto de menor elevação em relação ao qual um rio pode erodir seu próprio canal. Esse nível base pode ser um lago, mar ou oceano.
Classificação dos rios
Existem diversas formas de classificar um rio e drenagens, geralmente, as duas classificações feitas são em relação aos padrões de drenagem e a morfologia dos canais fluviais.
Padrões de drenagem
Quando se analisa uma imagem de satélite, uma fotografia aérea ou uma carta topográfica, é possível ver que existem padrões de organização de drenagem diferentes para cada situação geológica. São diversos padrões de drenagem, neste artigo descreveremos os seguintes: dendrítico, paralelo, radial, treliça, anelar e centrípeta.
Principais padrões de drenagem.
Fonte: http://www.pedologiafacil.com.br/enquetes/enq44.php (imagem alterada)
O padrão dendrítico se assemelha a galhos de uma árvore e ocorre em rochas cristalinas homogêneas como, por exemplo, o granito, ou em rochas sedimentares com camadas horizontais.
O padrão paralelo é caracterizado por canais principais paralelos ou sub-paralelos, com espaçamento aproximadamente igual. Ele se desenvolve em regiões com declividade acentuada e que as estruturas do substrato estão paralelas ao mergulho do terreno, como em uma dobra. Também pode estar associado a um sistema de falhas paralelas.
O padrão treliça apresenta uma drenagem de direção dominante e outra tributária perpendicular a ela. Esse padrão ocorre principalmente quando o substrato rochoso se alterna entre rochas mais resistentes e menos resistentes, o que é típico de regiões dobradas com relevo do tipo Apalachiano.
Padrão centrípeto. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/12173862/
O padrão radial ocorre quando a drenagem se distribui em todas as direções a partir de certo ponto central. Ele ocorre em cones vulcânicos e domos. Quando o domo está erodido e as rochas do substrato se tornam alternadas entre mais e menos resistentes o padrão se torna anelar em que as drenagens principais são circulares e as tributárias são perpendiculares as principais. Como um intermediário entre o padrão treliça e o radial.
A drenagem centrípeta ocorre em crateras e bacias tectônicas, ou seja, áreas rebaixadas. Ela é caracterizada por inúmeras drenagens que fluem em direção ao centro.



Morfologia dos canais fluviais
Existem quatro padrões principais de classificação de canais fluviais, eles são retilíneo, meandrante, entrelaçado e anastomosado. Os rios são agrupados nessas definições de acordo com a sinuosidade, grau de entrelaçamento e relação entre largura e profundidade.

Os rios retilíneos não são muito comuns, porque estão associados a condições específicas: quando não controlados por falhas e fraturas, eles ocorrem somente em leitos rochosos homogêneos que oferece a mesma resistência à água. Eles são caracterizados pela presença de um canal único, bem definido e com margens estáveis.
Rio Paraíba do Sul, Brasil. Exemplo de Rio Retilíneo.
Exemplo: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2305270/mod_resource/content/2/
8_Fluvial_Morfologia_e_Padroes_Drenagens_ANDRE_NEGRAO.pdf

Rio de Las Chinas, Chile.
Exemplo de canal fluvial do tipo meandrante.
Fonte: https://clasticdetritus.com/2008/11/21/
friday-field-foto-72-meandering-river-in-patagonia/
Os rios meandrantes ocorrem em regiões de clima úmido e cobertas por mata ciliar, sua principal característica é sua alta sinuosidade, que são formadas a partir da erosão progressiva das margens côncavas e a deposição nos leitos convexos, assim se formam os chamados meandros: as curvas acentuadas de um rio. Em relação à razão largura/profundidade, o canal fluvial meandrante sempre a apresenta menor do que 40. Inúmeros depósitos aluvionares, como as planícies de inundação, estão relacionados a rios meandrantes.


Quanto mais ocorre a erosão e deposição contínua, mais acentuada se torna a curva do meandro, o que acaba por fazer com que ele se feche, separando-se do restante do canal fluvial. Isso é chamado de “meandro abandonado”.
Meandros abandonados.
Fonte: http://igeologico.com.br/blog/2018/08/19/voce-conhece-os-sistemas-fluviais-e-as-principais-causas-das-inundacoes/

Rio Waimakariri, Nova Zelândia.
Exemplo de canal fluvial do tipo entrelaçado.
Fonte: http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/
15510816022012Geomorfologia_Fluvial_e_Hidrografia_aula_6.pdf
Os rios entrelaçados são comuns em regiões de clima seco e são caracterizados por serem grandes canais únicos, porém divididos em diversos cursos d’água. Isso ocorre por conta das suas declividades médias a altas (> 5°), da carga de fundo grossa e da facilidade na erosão das margens. À medida que a declividade vai diminuindo, o rio não tem mais energia para deslocar os sedimentos de granulometria grossa. Assim, eles se depositam, tornando-se a carga de fundo Os sedimentos erodidos das margens também são igualmente depositados no fundo, o que propicia a formação de barras que fazem com que a corrente de água seja dividida. Características importantes deles são a grande quantidade de carga de fundo e a grande razão largura/profundidade (maior que 40 e podendo ser maior que 300), ou seja, são muito largos, porém pouco profundos, devido aos sedimentos depositados em seu leito.


Rio Lena, Rússia.
Exemplo de canal fluvial do tipo anastomosado.
Fonte: https://earthobservatory.nasa.gov/images/
7343/lena-river-delta-russia
Os rios anastomosados são caracterizados pela presença de dois ou mais canais estáveis que se encontram em regiões de subsidência. Eles possuem baixa energia, estão interconectados, se desenvolvem em áreas úmidas e alagadas, formam várias ilhas alongadas recobertas por vegetação, etc. Essas ilhas são essenciais na caracterização e formação desse tipo de canal fluvial porque são as responsáveis por subdividir o canal em vários. Esses bancos de sedimentos são depositados porque os rios anastomosados não tem energia suficiente para transportar os sedimentos por todo seu curso. Por essas razões, eles são, geralmente, encontrados em regiões de clima úmido, já que dependem fortemente da ação da vegetação na fixação das margens. Eles apresentam pouca razão largura/profundidade (inferior a 10) e alta sinuosidade (superior a 2).




Conclusão
A classificação de rios é somente a parte inicial desse assunto, porém muito importante para a compreensão dos que serão tratados posteriormente. Mantenha-se informado pelo Facebook e Instagram do Sobre Geologia para não perder os próximos artigos dessa série!
Referências:
http://sigep.cprm.gov.br/glossario/
http://w3.ufsm.br/labgeotec/pdf/hidrogeografia/aula2_padroes_de_drenagem.pdf
http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/padroes_drenagem.htm
http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/15505516022012Geomorfologia_Fluvial_e_Hidrografia_aula_3.pdf
TEIXEIRA, Wilson; FAIRCHILD, Thomas Rich; TOLEDO, M. Cristina Motta de; TAIOLI, Fábio. Decifrando a Terra. 2aedição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1038015/mod_resource/content/1/AULA%203_FLUVIAL.pdf
https://pt.slideshare.net/patriciaedersonmlynarczuk/aula-03-hidrologia
http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/meandro.htm

http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/3212,3.shl

Artigo escrito por Isabel Schulz e revisado por Isabela Rosario

3 comentários:

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