Geologia Planetária I — Ciência da Terra fora da Terra? - Sobre Geologia

14/07/2019

Geologia Planetária I — Ciência da Terra fora da Terra?

Sabe aquela casa na vizinhança que parece bem legal, mas você conhece o dono só de vista? Se as ciências vivessem num bairro, bem no finalzinho da rua das geociências estaria ela: a exogeologia. Também conhecida como geologia planetária. E Já que estamos de geociências (Gaeos/Γάιος significa Terra), parece até uma brincadeira etimológica. 
Mas falar de ciência da Terra fora da Terra é mais que possível, é uma realidade e ela já tem idade de ser vovó. Há quase 60 anos, Eugene Shoemaker iniciava seus estudos e um sector de astrogeologia na U.S. Geological Survey. Ele geólogo, e Carolyn Shoemaker, sua esposa,  astrônoma planetária. 

Foto ilustrativa de mineração espacial. Fonte: futurism.com
A nova ciência surgia de uma situação complexa, a tecnologia evoluía, permitindo-lhes cada vez mais trabalhar com o concreto, mas seu contexto propulsor foi, de facto, o início da corrida espacial.
Uma formulação de Demóclito, que morreu em 370 a. C., traz a primeira noção filosófica de um universo com vários mundos: diferentes, alguns com plantas, com mais sóis, com mais luas, sem luas, sem vida. Noção que ele deduziu a partir de sua ideia de átomo.
Hoje, é uma ciência muito bem estabelecida e com uma prospectiva cada vez mais animadora de avanços práticos e metodológicos em suas pesquisas. 
A geologia planetária busca entender as estruturas internas dos corpos celestes e suas relações dinâmicas, história e carcterísticas. Incluindo já hoje:  tectônica, vulcanologia, processos de impacto, mapeamento, mineralogia, geoquímica da superfície e geomorfologia, dinâmica do manto e da listofera, gravidade e interpretação de campo magnético.
Associada fortemente à astrobiologia, usa os pressupostos e conhecimento que conseguimos, ao longo dos anos, verificar na Terra para outros corpos celestes, preferencialmente é claro, os planetas, asteroides e luas, divergindo assim de outras ciências cósmicas que estudam corpos estelares e quânticos.
Para tanto, felizmente, temos hodiernamente muito mais do que apenas o olhar atento dos telescópios. A possibilidade de se trabalhar com fotos espaciais em diversos comprimentos de ondas pelo envio de satélite - como o New Horizons - tornou o sistema solar mais palpável e  a fotointerpretação o método mais forte de dessa ciência.
Para além do estudo de reconhecimento ou as buscas em exoplanetas distantes, e da lua que, contrariando as altas expectativas do passado, não tinha muitas semelhanças com a Terra; existe um grande sector voltado a corpo mais próximo e a um grande sonho da humanidade.


Marte, lá vamos nós!

O Naukluft Plateau em Marte. Fonte: Jet Propulsion Laboratory
Entender Marte e efetivamente definir o que se faz necessário para sua colonização é uma tafera científica multidisciplinar, da qual é um de seus mais proeminentes participantes o geólogo planetário. Não só as condições geográficas como relevo e clima devem ser entendidas, mas também, a dinâmica interna, vulcanismo, agentes erosivos, movimento de massa et cetera.
Principalmente porque se tratando do Planeta Vermelho, há muitas semelhanças, mas alguns pressupostos físicos mudam, como gravidade, pressão atmosférica, composição atmosférica e mineralógica, o que gera diferenças consideráveis nas relações dos materiais geológicos com os agentes exógenos. 
O processo de mapeamento do planeta é relativamente bem sucedido e vem sendo feito não só por fotos espaciais, mas por fotos locais e coleta e análise de amostras. Fizeram isso os rovers que pousaram no planeta desde 1997 - o Sojourner - o Opportunity e Spirit que concluíram suas missões em janeiro de 2019, e ainda lá está o Curiosity enviando dados para análise de competentíssimos geocientistas e transformando tudo que se pensava e supunha sobre Marte.


Prospecção Mineral

Existe a possibilidade e intenção, por certo, de se prospectar minerais em asteroides e outros corpos no sistema solar. A ideia considerada desde os anos 80 passa a ser levada a sério em projetos, muitas empresas inovadoras na área caminham nesse sentido e a ciência não é diferente. Os asteroides próximos à Terra são as principais apostas, conhecidos pela sigla NEA (Near Earth Asteroids), dois dos quais já foram visitados:
O 433 Eros foi visitado pela sonda NEAR Shoemaker da NASA, em 2001. Enquanto o 25143 Itokawa foi visitado em 2005 com recolhimento de amostra pela sonda Hayabusa da JAXA.

Informação de asteroides do cinturão entre Marte e Júpiter. Fonte: revistagalileu.globo.com
Veremos num futuro próximo, a emergência desse novo ramo: a prospecção espacial, conforme a tecnologia avançar nesse sentido. O que se tem hoje para isso é apenas a espectrometria, que não nos propicia dimensões e composições precisas o suficiente para um investimento de alto risco.
E em seguida, o surgimento de outros ramos específicos que ainda não deram as caras na geologia planetária. Seria possível uma petrologia marciana? A geofísica ceresiana, a hidrogeologia titaniana, ou quem sabe, uma geologia econômica cinturiana? Pode ser que sim, muito ainda se está por escrever, mas começemos aos poucos, pelo mais próximo. A lua, por exemplo, fica para o próximo capítulo.


Artigo escrito por Felipe Limoeiro

Referências 

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2016/06/mineracao-de-asteroides-pode-deixar-o-mundo-ainda-mais-desigual.html
http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/O-Geologo-e-a-Geologia-1116.html
https://gizmodo.uol.com.br/curiosity-foto-vera-rubin-ridge/
https://careertrend.com/education-requirements-for-a-planetary-geologist-career-12476431.html
https://www.nasa.gov/mission_pages/newhorizons/overview/index.html
https://scienceandtechnology.jpl.nasa.gov/research/research-topics-list/planetary-sciences/planetary-geology-and-geophysics
https://astrogeology.usgs.gov/rpif/gene-shoemaker
https://www.fromspacewithlove.com/pt/curiosity-rover-on-mars-pt/

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