Geomorfologia do litoral brasileiro - Sobre Geologia

11/08/2019

Geomorfologia do litoral brasileiro

Segundo o censo de 2010 do IBGE, 26,6% dos brasileiros vivem na costa do país. Esse fenômeno pode ser explicado a partir da colonização, já que a ocupação se iniciou no litoral e somente depois foi iniciada a ocupação da porção interiorana. Além disso, o litoral brasileiro é 16° maior do mundo, com uma extensão de 7.491 quilômetros. A partir dessas informações, é possível perceber que o litoral brasileiro é de extrema importância nos campos econômico, social, ambiental e, também, geomorfológico. O estudo da geomorfologia costeira é essencial para a compreensão do contexto geomorfológico do nosso país e, por isso,  no artigo de hoje serão esclarecidos alguns conceitos básicos de geomorfologia costeira, assim como contexto brasileiro será aprofundado.
Praia de Copacabana no Rio de Janeiro: Exemplo de região costeira altamente urbanizada. Fonte: Booking.com.

Introdução
Existem muitos processos responsáveis pela gênese de feições costeira, podendo estar relacionados à uma dinâmica global ( como é o caso da tectônica de placas), clima atual e paleoclima, às mudanças no nível do mar — ou à uma dinâmica costeira — como as ondas, correntes litorâneas, regime de marés e vento, atuando no regime de maré e no transporte de sedimentos (VILLWOCK et al. 2005).

Conceitos
O contato entre o oceano e terra pode ocorrer de forma brusca, por um obstáculo rígido, como falésias em rochas cristalinas ou sedimentares, ou por meio de um material móvel e, por vezes, permeável, como sedimentos arenosos e argilo-siltosos. No segundo caso de contato, ela pode ser classificada como terraço, o que significa que sua escarpa é mais elevada, ou como cordão/barreira, quando sua extensão lateral é muito maior que sua largura.
As ilhas barreira são cordões arenosos localizados à frente da costa, que não possuem qualquer ligação de suas extremidades com a terra firme. Hoje, feições como essa não são encontradas no Brasil, porém há 5.100 anos AP, no máximo transgressivo marinho, elas podiam ser encontradas. Já os cordões litorâneos possuem as duas extremidades ligadas a terra firme. Quando apenas uma de suas extremidades está ligada a terra, a feição é chamada de Pontal.

Ria Formosa em Portugal (exemplo de ilha barreira). Fonte: Geocaching.
As planícies costeiras são feições caracterizadas por serem relativamente planas, baixas, junto ao mar e resultantes da deposição de sedimentos marinhos e fluviais. No Brasil, essas planícies são mais alargadas na região Norte, devido às descargas sedimentares do rio Amazonas, ou por deltas (para ler mais sobre deltas, clique aqui) de outros rios. Nas porções nordeste a sul, as planícies são mais estreitas, sendo limitadas pelos tabuleiros costeiros da formação Barreiras ou pelas escarpas cristalinas da Serra do Mar.
Praia pode ser definido como um depósito sedimentar majoritariamente composto por areia, acumulado por ação das ondas e que tem mobilidade o suficiente para se ajustar às condições de ondas e maré.
O ambiente costeiro também propicia à formação de depósitos eólicos: as dunas. Elas ocorrem em locais onde a velocidade do vento e a disponibilidade de areia com granulometria fina sejam propícios ao transporte eólico (para ler mais sobre dunas clique aqui).


Litoral brasileiro e seus macrocompartimentos
O geógrafo Dieter Muehe foi o responsável por separar a costa brasileira em macrocompartimentos de acordo com suas características geomorfológicas. Para elaborar tais divisões, Muehe utilizou como base as subdivisões feitas anteriormente por Silveira (1964). Os macrocompartimentos estão inseridos nas regiões geográficas Norte, Nordeste, Leste ou Oriental, Sudeste e Sul, que não coincidem com as delimitações das regiões brasileiras.
Devido à extensão de conteúdo dos macrocompartimentos, esse artigo se aterá às características gerais de cada região e, em alguns casos, nas principais distinções entre macrocompartimentos.
Macrocompartimentos costeiros (MUEHE). Fonte: Geomorfologia do Brasil.

Norte
A região Norte, em geral, pode ser caracterizada pela enorme influência do rio Amazonas. Isso faz com que sua plataforma continental seja larga, recoberta por sedimentos lamosos e com grande quantidade de água doce. Com extensão do extremo norte do Amapá até o golfão Maranhense, a região Norte é subdividida em três macrocompartimentos: Litoral do Amapá (1), Golfão Amazônico (2) e Litoral das Reentrâncias Pará-Maranhão (3).

Nordeste
Lençóis maranhenses. Fonte: Julius Dadalti.
A região Nordeste se estende da baía de São Marcos à baía de Todos os Santos. Ela possui dois grandes grupos que divergem, principalmente, quanto ao índice pluviométrico: a costa semi-árida (pouca chuva) e a costa dos Tabuleiros (muita chuva). Eles, por sua vez, são subdivididos nos macrocompartimentos Costa semi-árida Norte (4), Costa semi-árida Sul (5),  Costa dos Tabuleiros Norte (6), Costa dos Tabuleiros Centro (7) e Costa dos Tabuleiros Sul (8). Em geral, eles apresentam características similares como uma estreita planície costeira devido aos Tabuleiros Costeiros (unidade geomorfológica com relevo de topo plano esculpido em sedimentos pouco ou não consolidados, com altitudes relativamente baixas e terminações abruptas em forma de falésias) da Formação Barreiras, formação que ocorre desde o Amazonas até o Rio de Janeiro  (ALHEIROS et al, 1988) caracterizada por sedimentos de origem marinha e fluvial (ARAI, 2006), pouco ou não consolidados e mal selecionados (VILAS BOAS, 1996; VILAS BOAS; SAMPAIO; PEREIRA, 2001). Uma feição morfológica característica da Costa semi-árida Norte são os campos de Dunas dos Lençóis Maranhenses.

Leste ou Oriental
A costa Oriental ou Leste se estende de Salvador a Cabo Frio. É dividido nos macrocompartimentos Litoral de Estuários (9), Banco Royal Charlotte e Abrolhos (10), Embaiamento de Tubarão (11) e Bacia de Campos (12). Ela é geomorfologicamente similar a região Nordeste, principalmente por conta da presença dos tabuleiros costeiros, porém a Formação Barreiras se encontra descontínua e substituído pelo embasamento pré-cambriano entre o recôncavo baiano e Ilhéus.
Exemplo de tabuleiros costeiros no Ceará. Fonte: Minube.
Região Sudeste
A extensão do litoral da região Sudeste vai de Cabo Frio ao Cabo Santa Marta, em Santa Catarina. Ela é caracterizada pela proximidade da encosta da Serra do Mar, uma grande estrutura orogenética composta pelas mais variadas rochas metamórficas — xistos, gnaisses, migmatitos e granulitos são alguns exemplos. Essa serra, em alguns pontos, chega diretamente ao oceano. A orientação das estruturas da Serra são na direção NE-SW (nordeste-sudoeste) em divergência a orientação E-W (leste-oeste) do litoral. Ela é subdividida nos seguintes macrocompartimentos: Litoral dos Cordões Litorâneos (13), Litoral das Escarpas Norte (14), Litoral das Planícies Costeiras e Estuários (15), Litoral das Escarpas Cristalinas Sul (16) e Litoral das Planícies Litorâneas de Santa Catarina (17).

Região Sul
A extensão do Litoral Sul vai do cabo de Santa Marta até o município de Chuí. Suas principais características são a linha de costa retilinizada e monótona, sucessões de cordões litorâneos, recoberto por dunas e lagunas (como a lagoa dos Patos e a lagoa Mirim). É dividida em dois macrocompartimentos pelo município de Torres: Litoral Retificado do Norte (18) e o Litoral dos Sistemas Laguna-Barreira do Rio Grande do Sul (19). A porção mais a norte é caracterizada pela estreita planície costeira e a presença da escarpa da Serra Geral, já a porção mais a Sul é caracterizada a planície é mais larga e há a presença do Escudo Rio-Grandense e Uruguaio.

Conclusão
O texto tratou de conceitos básicos da geomorfologia litorânea, assim como descreveu as feições características encontradas na costa brasileira. A partir do que foi explorado, é possível concluir que esse assunto envolve não só aspectos geomorfológicos, como também geográficos, geológicos, climáticos, entre outros. É essencial que esse assunto seja estudado para a preservação das características do litoral brasileiro, que é muito diverso e rico em geologia, flora, fauna e potencial turístico.

Referências
ALMEIDA, Fernando Flávio Marques de; CARNEIRO, Celso Dal Ré. Origem e Evolução da Serra do Mar. Revista Brasileira de Geociências. Junho de 1998.
CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira. Geomorfologia do Brasil.  7a edição.  Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
TORRES, Fillipe Tamiozzo Pereira. Introdução à geomorfologia. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia: Uma Atualização de Bases e Conceitos. 10a edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
Manual técnico em Geomorfologia (2ª edição). IBGE. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66620.pdf
https://www.geocaching.com/geocache/GC79QXA_ria-formosa-ilhas-barreira

Escrito por Isabel Schulz e revisado por Isabela Rosário

2 comentários:

  1. Não encontrou nada sobre a crosta do Amapá. Também fiz um trabalho sobre a geomorfológia costeira do Brasil e não encontrei nada sobre a crosta do Amapá. Somente Marajó. Nem fotos, nada. Porquê será?

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