Chapada Diamantina, Bahia |
No artigo dessa semana vamos abordar uma das geociências fundamentais para compreender o nosso planeta: a geomorfologia!
Animação ilustrando a evolução do relevo na região do Grand Canyon, Arizona, EUA - Retirado de: http://reynolds.asu.edu/geologic_scenery/geologic_scenery_images.htm |
Para entendemos o objeto de estudo desta ciência devemos primeiro
analisar a etimologia do seu nome. Do grego, geos = Terra; morfo = forma; logos
= estudo. Então, percebe-se que o objeto de estudo da geomorfologia são as "formas da Terra". Mais especificamente, o estudo das formas da superfície terrestre. Portanto, esta ciência busca compreender a formação e a evolução do
relevo, bem como suas implicações para o clima, vegetação, solo, sociedade,
etc.
Evolução dos Estudos da Geomorfologia
Historicamente, as reflexões acerca do relevo e de seus agentes formadores são feitas desde a Grécia antiga, onde pensadores como Thales de Mileto, Anaxímenes,
Heráclito, Aristóteles, entre outros já apontavam a água, os ventos, e forças
endógenas como responsáveis pela formação do relevo.
O conhecimento geomorfológico
ficou estancado durante muito tempo na idade média e apenas durante o
renascimento houveram novos estudos na área. Leonardo da Vinci estudou, durante
o renascimento, o entalhe de vales formados pela passagem de rios, além da
deposição de sedimentos devido à ação fluvial.
Na idade moderna, Bernard
Palissy postulou alguns dos principais fundamentos da geomorfologia, como a
relação entre a vegetação e a preservação do solo, a relação entre a pedologia(estudo dos solos) e a geomorfologia, e a ação de forças internas e externas responsáveis por
construir e moldar o relevo, porém suas ideias tiveram pouca repercussão e
permaneceram esquecidas durante anos.
Séculos mais tarde, James
Hulton surge como um dos principais expoentes para a geomorfologia, geologia,
hidrologia e outras ciências da natureza. Para Hulton, "o presente é a
chave do passado". Dessa forma, fenômenos observados no presente poderiam
explicar feições geológicas e geomorfológicas até então sem explicação.
A
geomorfologia como ciência tem origem em duas correntes: a anglo-americana e a
alemã. Nota-se que, enquanto a anglo-americana interpreta a formação do relevo
como decorrente de processos internos, da modelagem de estruturas e do tempo, a
alemã trazia uma análise que considerava também a climatologia, a biogeografia
e a ação humana sobre o relevo.
Para
a corrente anglo-americana destacam-se os estudos de Davis e seu livro “The
Geographical Cycle”, ao passo que para a alemã, Penck é o principal expoente.
Com a evolução dos modelos de estudo, atualmente, a geomorfologia integra essas
duas correntes.
Fundamentos para Compreender o Relevo
Um dos componentes básicos de
qualquer tipo de relevo é a vertente. De maneira geral, vertente é qualquer
superfície inclinada, não horizontal, independente de como esta tenha sido
formada (Christofoletti, 1980).
Concepções genéricas de vertente em geomorfologia - Retirado de: http://ppegeo-local.igc.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90822008000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt |
Já o comportamento de um relevo ao longo do tempo("evolução do relevo"), ocorre de
acordo com dois tipos de processos: endógenos e exógenos.
Os processos
endógenos estão ligados à dinâmica interna da Terra ou dinâmica da litosfera(vide série de artigos "Estrutura da Terra"),
como o tectonismo, magmatismo, metamorfismo, orogênese e epirogênese. Estes
processos modificam a posição altimétrica e a orientação das vertentes preexistentes.
Dessa forma, são os processos endógenos então, os responsáveis pela construção
do relevo.
Agentes endógenos na formação do relevo - Retirado de: http://geolibertaria2.blogspot.com.br/2013/02/apostilas-de-geografia-relevo-terrestre.html |
Se os processos endógenos
constroem o relevo, os exógenos são responsáveis por moldá-lo. Estes tipos de
processos estão ligados à dinâmica externa da Terra (Atmosfera e superfície
terrestre). Exemplos deste são o intemperismo, a ação pluvial, a ação eólica,
ação do gelo, ação biológica e antrópica, entre outros.
Agentes exógenos na formação do relevo - Retirado de: http://cristianemattar.blogspot.com.br/2012/05/ |
A geomorfologia dá ênfase
maior ao estudo dos processos exógenos(ou exogenéticos), já que os processos endógenos são
parte do campo de estudo da geodinâmica. Porém, é importante ressaltar que de certo modo, toda feição geomorfológica é resultante dos processos exógenos, mas nem todas são resultantes de processos endógenos.
Estrutura Geológica Global
No mundo, pode-se dividir as
estruturas geológicas em três tipos: bacias sedimentares, escudos cristalinos e
cadeias dobradas.
Estrutura geológica global - Retirado de: http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_057_estrutura_geologica.pdf |
- Escudos cristalinos:
Geralmente de idade bastante antiga, datando desde o pré-cambriano, os escudos
formam-se por rochas ígneas e/ou metamórficas. Apresentam-se recobertos por
sedimentos ou expostos à superfície, geralmente gravemente desgastados pelos
processos intempéricos ao longo do tempo.
- Bacias sedimentares: São
depressões preenchidas por material sedimentar, onde ocorre a litificação dos
sedimentos, transformando-os em rochas sedimentares. Nessas áreas também se associa a presença de petróleo, gás
natural e carvão mineral.
- Cadeias dobradas: Ocorre geralmente próximo a limites de contato entre placas tectônicas e forma-se em decorrência da compressão dessas placas causando uma elevação do relevo chamada orogênese(montanhosidade). Exemplos desta estrutura geológica são os Himalaias e os Andes.
Estas estruturas são
fundamentais para compreender os processos morfológicos diferenciados em cada uma
delas.
Áreas da geomorfologia
A geomorfologia divide-se em
seis áreas de estudo:
A “Geomorfologia dinâmica”
estuda a relação de processos geológicos na formação do relevo. Este campo é
fundamental para compreender a morfologia de ambientes próximos à limitestectônicos onde há grande influência de falhas e dobras.
A “Geomorfologia climática”
estuda a relação de fenômenos atmosféricos como o vento e as chuvas com a
modelagem da superfície. Regiões com diferentes tipos de clima evoluem em
velocidades distintas. Dessa forma, áreas de clima árido evoluem mais lentamente
que áreas chuvosas, por exemplo.
A “Geomorfologia glacial”
estuda as formações causadas em ambientes de geleiras e nos ambientes
periglaciais(localizados ao redor dos ambientes glaciais). Uma das formas mais interessantes causadas pela ação das geleiras
são os fiordes. Fiordes são entradas do mar em meio às montanhas devido a ação
erosiva do gelo.
Fiorde de Gudvangen, Noruega - Foto de Adam Major |
A “Geomorfologia eólica”
estuda as formas originadas pela ação do vento, em especial em desertos, zonas
costeiras e regiões polares. Uma forma bastante característica gerada pela ação
eólica são as dunas.
Duna-7, Namíbia. A maior duna de areia do mundo - Retirado de: http://gigantesdomundo.blogspot.com.br/2013/02/a-maior-duna-de-areia-do-mundo.html |
A “Geomorfologia de encostas”
é o ramo que estuda a atividade em sopés(base) de morros e montanhas, como os
movimentos de massa (deslizamentos de terra) e manutenção de encostas. É
fundamental para a análise de riscos e muitas vezes está integrada à questão da
ocupação urbana.
A “Geomorfologia fluvial” é o
ramo especializado em estudar a formas originadas pela ação dos rios. A ação
fluvial é uma das que causa maior impacto sobre o relevo. A erosão causada pelo
fluxo d'água entalha vales e drenagens pela superfície, moldando o relevo ali presente.
A História da Geomorfologia no Brasil
A evolução do conhecimento
geomorfológico no Brasil é algo recente. Embora algumas observações pioneiras
importantes ocorridas no século XIX, as contribuições de caráter estruturado e
direto sobre o território brasileiro pertencem todas ao século XX
(Christofoletti, 1980).
No século XIX, naturalistas
vieram ao Brasil na tentativa de compreender o meio ambiente. Nas expedições
realizadas por esses pesquisadores ocorreram os primeiros estudos sobre o Vale
do Amazonas, Bacias Hidrográficas entre o Rio de Janeiro e a Bahia, além de
pesquisas sobre a geologia do litoral nordestino por exemplo.
No início do século XX,
diversos pesquisadores estrangeiros contribuíram de maneira importante para as
pesquisas a respeito de geologia e geomorfologia, além da presença efetiva de
pesquisadores brasileiros.
É na década de 1940 que a
geomorfologia vai se consolidar definitivamente no território brasileiro com os
estudos de Guimarães (1943) e Azevedo (1949). Outros estudos importantes
realizados durante os séculos XX e XXI são os de Aziz Ab’Saber e Jurandyr Ross.
Classificação do relevo brasileiro
O Brasil, como um
país de dimensões continentais, apresenta uma grande diversidade em relação à
fisionomia de seu relevo. Dessa maneira, historicamente a classificação do
relevo é bastante dificultada. Ao longo da história, houveram três importantes
classificações de relevo:
1) Classificação de Aroldo de Azevedo - 1940: Nesta classificação, os planaltos foram definidos como áreas
acidentadas com mais de 200 metros de altitude, enquanto que as planícies foram
consideradas como áreas planas de pouca altitude e áreas mais altas – como
montanhas – foram consideradas aquelas com altitudes superiores à 1200 metros.
Segundo Azevedo, o
Brasil é composto por cerca de 59% de planaltos e 41% de planícies, além de
0,58% de áreas elevadas. O território brasileiro ainda foi dividido em oito
unidades de relevo: Planalto Central, Planalto Meridional, Planície Costeira,
Planície dos Pampas, Planalto do Atlântico, Planalto das Guianas, Planície
Amazônica e a Planície do Pantanal.
Classifcação do relevo brasileiro segundo Azevedo (1940) - retirado de: http://lucinhahb.blogspot.com.br/2012/03/aroldo-de-azevedo-e-classificacao-do.html |
2) Classificação de Aziz Ab´Saber – 1958: Para Ab’Saber, planalto era toda região onde o processo
de erosão supera o de sedimentação e, de forma inversa, planície é toda região
onde a sedimentação supera a erosão. Dessa forma, esse
modelo substituía o critério "altitude" pelo critério do "processo geomorfológico
predominante", e portanto, alterava a classificação de relevo do Brasil.
Na classificação de
Ab’Saber, o Brasil é composto por cerca de 75% de planaltos e 25% de planícies.
O território brasileiro ficou dividido em dez tipos de relevo de acordo com o
mapa abaixo.
Classificação do relevo brasileiro segundo Ab'Saber (1958) - Retirado de: http://geografalando.blogspot.com.br/2013/04/classificacao-do-relevo-brasileiro.html |
3) Classificação de Jurandyr Ross – 1989: Por fim, o geógrafo Jurandyr Ross realizou uma nova
classificação do relevo brasileiro usando como base os estudos de Ab’Saber e os
dados do projeto RADAM Brasil.
Neste modelo foi
introduzido o conceito de “depressões” ao relevo brasileiro. Esta unidade de
relevo é definida como áreas aplainadas e rebaixadas em relação ao terreno
circundante.
Segundo Ross, o
Brasil é dividido em 28 unidades de relevo, sendo 11 planaltos, 11 depressões e
6 planícies, como representado no mapa abaixo.
Classificação do relevo segun Ross (1989) - Retirado de: http://lealtudo.blogspot.com.br/2012/05/formas-de-relevo-do-brasil-depressoes.html |
Referências:
- Christofoletti, Antonio, “Geomorfologia”, Editora Blucher, São Paulo, 1980.
- http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfoA4AJ/evolucao-historica-dos-estudos-geomorfologia. Acessado em 30/07/2017.
- http://www.funape.org.br/geomorfologia/cap1. Acessado em 30/07/2017.
- http://www.geomarco.org/download/Processos%20Geol%C3%B3gicos.pdf. Acessado em 30/07/2017.
- http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/agentes-exogenos-relevo.htm. Acessado em 30/07/2017.
- http://geobrmundo.blogspot.com.br/2015/08/ramos-da-geomorfologia.html. Acessado em 30/07/2017.
- http://escolaeducacao.com.br/classificacao-do-relevo-brasileiro. Acessado em 30/07/2017.
Escrito por Carlos Eduardo e
editado por Rafael Ladeia.