Mineração em profundidades do oceano - Sobre Geologia

27/01/2019

Mineração em profundidades do oceano


A mineração é de extrema importância para as diversas necessidades da humanidade contemporânea, mas, com o passar do tempo, os minérios tendem a se tornar escassos, independente do tipo e do local de exploração. É nesse contexto que a mineração em leitos oceânicos surge – as minas em superfície cada vez menos rentáveis e a necessidade de metais que segue aumentando.
Mineração oceânica no Brasil.
Fonte: http://revistamineracao.com.br/2016/12/02/mineracao-submarina-a-extracao-em-aguas-profundas/


Introdução
Mesmo que não seja de senso comum a existência de metais passíveis de exploração no fundo oceânico,  esses depósitos já são conhecidos desde 1870. A expedição HMS Challenger, responsável por inúmeros conhecimentos da oceanografia atual, confirmou a existência desses recursos no Mar de Kara, Sibéria.
Entretanto essa exploração foi considerada economicamente inviável durante anos, principalmente devido aos caros investimentos que teriam de ser realizados para que a tecnologia de exploração fosse desenvolvida, além disso, ainda havia grande oferta de metais oriundos da mineração tradicional.
A partir da década passada a necessidade de novos depósitos passou a demandar a exploração dos oceanos, até porque estudos apontam quantidades de minério marinho que se igualam ou ultrapassam àquelas encontradas em terra. Na zona de fratura Clarion-Clipperton - uma planície abissal que se encontra do Havaí até a península da Baixa Califórnia – estima-se que sejam encontradas 76 milhões de toneladas de níquel e 7 milhões de toneladas de cobalto.
A ISA (Autoridade Internacional do Leito Oceânico), órgão específico da ONU responsável por controlar a exploração mineral dos oceanos, passou a conceder licenças em 2016, hoje, já foram emitidas 28 licenças para instituições de 20 países. Todas as licenças concedidas no oceano pacífico são na anteriormente citada zona de fratura Clarion-Clipperton.

Depósitos
Assim como na terra, nos oceanos os minérios são encontrados em diferentes formas de depósito. A primeira está relacionada às dorsais meso-oceânicas - elevações topográficas do fundo do mar com um rift valley central que se estende no meio dos oceanos (Oceano Atlântico, Oceano Índico,..) ao longo das bordas de duas placas divergentes onde está se formando crosta oceânica (Winge, M.) – onde o magma em contato com a água forma fontes hidrotermais ricas em minerais como cobre, zinco, chumbo e ouro, sendo então conhecidos como massivos sulfetos de leito marinho.
Outra forma de depósito são as crostas de cobalto: elas são produzidas quando os minerais são precipitados pela água que se acumulam em cumes de rochas duras e flancos de montanhas submarinas como crostas. Essas crostas crescem de forma muito lenta e hoje são encontradas em espessuras de 5 a 10 cm. O principal minério encontrado nelas é o cobalto, mas também podem ser encontrados outros metais como o níquel. Foram concedidas quatro licenças de áreas com esse tipo de depósito pela ISA, mas explorar as crostas de cobalto é um desafio porque áreas íngremes são difíceis de trabalhar e a retirada do minério das rochas é complexa.
 O tipo de depósito mais procurado para exploração é chamado de depósito de nódulo de manganês ou nódulos polimetálicos, esses nódulos são formados em profundidades de vários mil metros quando os metais se precipitam e se associam com sedimentos marinhos, o que forma um núcleo que cresce cerca de 1 cm a cada milhão de anos. Esses nódulos são encontrados em variadas partes do leito marinho. Em cada nódulo 3% representa níquel, cobre e cobalto (os principais metais procurados), enquanto 25% é manganês e o restante são sedimentos consolidados sem importância econômica.
Sistema de mineração oceânica.
Fonte: https://eddypump.com/education/subsea-mining-deep-sea-dredging/ (imagem adaptada).


Mineração oceânica no Brasil
Inúmeros países já realizam a mineração oceânica, o Brasil está a caminho. Diversas pesquisas envolvendo oceanografia, amostragem da água, mineralogia, petrografia e geofísica estão sendo realizadas na Elevação do Rio Grande - uma grande cordilheira submersa de 3 mil metros de altura em águas internacionais do Atlântico Sul, localizado há 1,1 mil quilômetros da costa do Rio Grande do Sul.
O projeto é comandado pelo Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) junto com a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e foi aprovado pela ISA em 2014, quando foi concedido ao Brasil o direito de pesquisar a área durante 15 anos. O estudo tem como objetivo avaliar áreas de acordo com a viabilidade econômica, ambiental e técnica dos depósitos minerais encontrados. Os principais metais dos sulfetos polimetálicos que podem ser encontrados na região são cobalto, níquel, manganês, fosfato e platina.
Área do Elevado Rio Grande.
Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/Noticias/Brasil-vai-realizar-estudos-ambientais-na-Elevacao-do-Rio-Grande-4551.html


Consequências Ambientais
Toda mineração tem inúmeras consequências para o meio ambiente terrestre, logo, a mineração marinha não é diferente. Existem algumas vantagens em relação a mineração terrestre, mas também outras tantas desvantagens.
Como vantagens é possível citar o fato dos equipamentos de exploração marinha que podem ser facilmente retirados do oceano assim que a mineração é terminada, diferente de minas a céu aberto onde as instalações permanecem no ambiente na maior parte das vezes, já que sua restauração é muito difícil e custosa. Além disso, o fato dos maiores depósitos e de mais fácil retirada de minério estarem cada vez mais esgotados de metais leva a exploração de jazidas de mais difícil extração, que tem como consequências um gasto maior de energia e processos mais degradantes. A mineração oceânica poderia representar a diminuição dessas consequências.
Por outro lado, é possível observar que os nódulos tão procurados têm a sua maior parte composta de materiais que não serão aproveitados, logo produzem muitos rejeitos que, normalmente, são descartados no próprio oceano, o que causa muitos danos a biodiversidade marinha.
Quando esses rejeitos são liberados eles se espalham rapidamente porque as correntes marítimas os moverem e, por serem muito pequenos (cerca de 0,2 mm), esses sedimentos se espalham em quilômetros de distância, podendo chegar a 10 km de distância da área de mineração. Normalmente, os oceanos não são preenchidos por tantos sedimentos de uma vez só - a taxa de sedimentação marinha é aproximadamente 1 milímetro a cada mil anos – então, mesmo que a quantidade de sedimentos seja pouca, já é muito maior que o normal. Isso sufocaria variadas espécies marinhas em pouco tempo, causando um grande desequilíbrio no ecossistema marítimo.
Existem microrganismos, como algumas bactérias, vivem presos aos nódulos e precisam deles para a sua sobrevivência, os que não morrerem logo após a retirada dos nódulos e nem sufocados com os rejeitos, viajarão com a nuvem de rejeitos por quilômetros e também morrerão por não se fixarem mais em nódulos, porque será difícil achá-los, já que demoram muito tempo para se formar.

Conclusão
O leito oceânico dificilmente se recuperará das inúmeras degradações que o homem causará com a mineração, mas ainda não é possível avaliar se esse tipo de mineração causará mais ou menos impacto do que aquelas que já são realizadas há algumas centenas de anos. O importante é que todos os países respeitem as leis ambientais estabelecidas pela ISA na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) em 1982, mas é preocupante que 14 países-membros da ONU assinaram a convenção, mas não a ratificaram – entre elas os Estados Unidos – e outros 15 países-membros não a assinaram.
Em compensação, 167 países e a União Europeia aderiram a UNCLOS, entre as regras estabelecidas estão que a empresa que deseja minerar o oceano precisa ser patrocinada por algum desses países e a área que for levantada para exploração será dividida na metade, a ISA escolherá qual dessas áreas será separada para que um país em desenvolvimento realize a exploração.

Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-43196978
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/05/130519_mineracao_oceano_polemica_rw
http://www.ibram.org.br/150/15001002.asp?ttCD_CHAVE=250960
https://www.isa.org.jm/clarion-clipperton-fracture-zone
http://sigep.cprm.gov.br/glossario/
https://darchive.mblwhoilibrary.org/handle/1912/7753
http://revistamineracao.com.br/2016/12/02/mineracao-submarina-a-extracao-em-aguas-profundas/
http://www.cprm.gov.br/publique/Noticias/Brasil-vai-realizar-estudos-ambientais-na-Elevacao-do-Rio-Grande-4551.html
PEACOCK, Thomas; ALFORD, Matthew H. A Mineração em Mar Profundo Vale a Pena? Scientific American Brasil, ano 17, n° 185, p. 66 – 73. Julho. 2018.

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