A Bacia do Recôncavo - Sobre Geologia

01/12/2019

A Bacia do Recôncavo

O estudo das bacias sedimentares é de extrema importância para a compreensão da geologia, o que já foi abordado no Sobre Geologia no artigo “Bacias Sedimentares - Conceitos básicos e tipologia”. No Brasil, existe um grande número de bacias, cada uma apresentando suas características específicas de formação e litoestratigrafia, assim como diferentes importâncias geológicas e econômicas. Uma das bacias brasileiras de destaque é a Bacia Sedimentar do Recôncavo, localizada no Estado da Bahia. No artigo de hoje será tratada tanto a sua história geológica, como a sua litoestratigrafia e importância econômica.

Mapa geológico da Bacia do Recôncavo. Alterado de Magnavita (1992).


Introdução
A Bacia Sedimentar do Recôncavo está localizada na Bahia, estado do Nordeste brasileiro. Ela é limitada com a Bacia de Tucano pelo Alto de Aporá, a norte e nordeste; pela Bacia de Camamu, pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pela falha de Maragojipe, a oeste; e pelo sistema de falhas de Salvador, a leste. A BSR ocupa uma área de, aproximadamente, 12.000km² e espessura de, aproximadamente, 6.900 m. Está orientada seguindo o trend NE-SW, formando um semi-gráben. (PRATES, FERNANDEZ 2015). 

Localização limítrofe e arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo (Milhomem et al., 2003).


História geológica
A história geológica da bacia do recôncavo está relacionada ao rifteamento do paleocontinente Gondwana, a Tafrogênese Mesozóica, porém popularmente conhecido como separação da América do Sul e da África, que ocorreu na Era Mesozóica, mais especificamente no Eocretáceo. Por isso, a Bacia está inserida no sistema de rifts (diversas falhas normais de alto mergulho) do Recôncavo-Tucano-Jatobá.
A partir da ruptura do Gondwana, formou-se uma junção tríplice, que ocorre em estruturas extensionais quando três placas litosféricas formam ângulos de, aproximadamente, 120° graus. A tendência dessa junção é que dois braços evoluam formando um mar linear e, em seguida, um oceano. Enquanto isso, o outro braço forma um aulacógeno ou rift abortado, que é uma bacia que não oceaniza. Este caso não foi diferente, já que se formaram o Oceano Atlântico e as bacias marginais brasileiras, entre essas bacias algumas se tornaram aulacógenos, como a do Recôncavo.

Litoestratigrafia
Para começar a retratar as litologias que compõem a Bacia do Recôncavo, é importante ressaltar que o seu embasamento é o cráton São Francisco, que já foi brevemente descrito em outro artigo, e que a sua história de preenchimento da Bacia pode ser dividida em 4 fases: sinéclise, pré-rift (Thitoniano a Eoberriasiano), sin-rift (Eoberriasiano a Eoaptiano) e pós-rift (Neoaptiano a Eoalbiano). 
A fase sinéclise ocorreu há 150 milhões de anos e está relacionada a um contexto de bacia intracratônica. Foram depositados, nessa fase, o Membro Cazumba (de ambiente de lagos rasos) - formado por depósitos continentais de pelitos lacustres avermelhados, com nódulos de anidrita na base da seção - e o Membro Pedrão - caracterizado por sedimentos clásticos, evaporitos e laminitos algais (incursões marinhas de ambiente de mar restrito) - ambos pertencentes à Formação Afligidos (Milhomem et al., 2003).
A fase pré-rift ocorreu entre 150 e 145 milhões de anos atrás e está relacionada aos sedimentos depositados nos primeiros estágios da movimentação da litosfera, antes mesmo dos falhamentos. Esses sedimentos são de origem flúvio-lacustre e eólicos: sedimentos se acumularam em lagos rasos em um clima desértico onde adentravam pequenos rios e, com a ação do vento, originaram campos de dunas. Esses sedimentos são encontrados no Membro Boipeba (Formação Aliança, Grupo Brotas), Formação Sergi (Grupo Brotas) e Formação Água Grande; também são encontrados seções pelíticas representados por Membro Capianga (Formação Aliança, Grupo Brotas) e Formação Itaparica.
A fase Rift ocorreu há 145 milhões de anos e indica a ruptura da crosta, o que gerou um grande lago tectônico originado pela subsidência diferencial da bacia. O estágio inicial lacustre abrange as Formações Candeias (Membros Tauá e Gomo) e Maracangalha. No depocentro da bacia, foram depositados os Membros Tauá e Gomo que são representados por argilas ricas em matéria orgânica. Posteriormente, rios que formaram deltas preencheram o lago com sedimentos finos: um novo pacote sedimentar chamado de Grupo Ilhas.
Na borda leste da bacia, próximo a falha de Salvador, foram depositados cunhas de conglomerados devido ao relevo elevado que adentravam o lago tectônico e hoje afloram na localidade de Mont Serrat. Esse pacote é chamado de Formação Salvador. Com a diminuição da subsidência, o lago foi progressivamente assoreado por sedimentos fluviais da Formação São Sebastião, o que provocou um assoreamento do rift.
A fase pós-rift ocorreu há 110 milhões de anos e, durante ela, a sub-bacia do recôncavo foi soerguido cerca de 10 m. Foi então depositada a formação Marizal, o que está relacionado a leques aluviais. Esses depósitos são compostos por arenitos, conglomerados, folhelhos e calcários.

Ressalta-se também a ocorrência de sedimentos terciários representada pelas fácies de leques aluviais pliocênicos que caracterizam a Formação Barreiras e pelos folhelhos cinza-esverdeados e calcários impuros da Formação Sabiá. Estes últimos testemunham uma incursão marinha de idade miocênica (Milhomem et al., 2003).

Aspectos petrolíferos
Depois de retratada a sua história geológica e estratigrafia é importante ressaltar a importância econômica e social que a Bacia do Recôncavo apresenta. Esta bacia é rica em petróleo e gás, assim, a exploração desses recursos foi responsável por uma grande movimentação da economia do Estado, além da geração de empregos.
Como já retratado anteriormente no blog, uma concentração de petróleo exige a existência de diferentes tipos de rochas que atuam como rocha geradora, reservatório e selantes, além da presença de trapas que evitam o deslocamento desse óleo. 
No caso da Bacia do Recôncavo, as principais rochas que atuam como geradoras são os folhelhos dos membros Gomo e Tauá da Formação Candeias que apresentam valor médio de 1% de carbono orgânico. A migração do petróleo se deu por falhas normais e blocos rotacionados, até chegar às principais rochas reservatório que são os arenitos flúvio-eólicos das formações Sergi, Itaparica e Água Grande, turbiditos das formações Candeias e Maracangalha e arenitos flúvio-deltaicos das formações Marfim e Pojuca. Já as rochas selantes são, principalmente, os folhelhos dos membros Tauá e Gomo, folhelhos da Formação Maracangalha, folhelhos prodeltáicos das formações Marfim e Pojuca e folhelhos da Formação Taquipe. 
Tratando-se das trapas, elas foram descritas por Rostirolla (1997) como divididas em três modelos: trapas estruturais representadas por horsts, estratigráficas ou combinadas e estruturais por rollovers.


Modelo de migração e acumulação para a Bacia do Recôncavo. As setas indicam a trajetórias de migração (Rostirolla, 1997).

Histórico exploratório
O início da exploração do petróleo da Bacia se deu em 1973 pelo antigo Conselho Nacional do Petróleo (CNP) e, até 1954, quando o monopólio da área se tornou da Petrobrás, foram descobertos os campos de Candeias (1941), Aratu e Itaparica (1942), Dom João (1947) e Água Grande (1952).
O monopólio da Petrobrás se estendeu de 1954 até 1997 e, nesse momento, foram feitas inúmeras novas descobertas e consolidados campos como Buracica, Miranga, Araçás, Taquipe, Fazenda Imbé e, na última fase, Fazenda Alvorada, Rio do Bu, Fazenda Bálsamo e Riacho da Barra.
A partir de 1997, houve o fim do monopólio da Petrobrás, o que aumentou a quantidade de investidores e a competitividade. Chegou-se a perfurar 6.692 poços sendo desses 1.247 de exploração. Em 2015 a produção acumulada de petróleo era estimada em 1,6 bilhões de barris e a de gás de 71,3 bilhões de m³. 


Poço da bacia do Recôncavo. Fonte: Evandro Veiga.


Conclusão
A Bacia do Recôncavo tem uma história geológica muito interessante e uma grande importância econômica, logo aprender sobre ela é fundamental. Infelizmente, por razões econômicas, em 2019 foi anunciado o fim da atividade da Petrobrás no Estado da Bahia e em toda a Região Nordeste, o que deve causar desemprego além de diversos prejuízos econômicos, tendo em vista a importância da exploração de petróleo para a sociedade baiana.


Referências

DA SILVA, Deise Elle Ribeiro. Caracterização sedimentológica e estratigráfica de testemunhos da Formação Itaparica, Campo Fazenda Alvorada, Bacia do Recôncavo, Bahia, Brasil. 2013, salvador, Bahia. Disponível em <http://www.twiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20122/TFG-DEIZE.pdf> 

MENDONÇA, Bruno Huoya. ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS DE BACIAS RIFTE: UMA NOVA ABORDAGEM PARA O ENTENDIMENTO DA VARIAÇÃO DO NÍVEL DE BASE NA REGIÃO NORDESTE DA BACIA DO RECÔNCAVO. 2012, Salvador. Disponível em: <http://www.twiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20121/Bruno_Huoya_Mendonca_20121.pdf>

DA SILVA, Augusto J. Pedreira; LOPES, Ricardo da Cunha; VASCONCELOS, Antônio Maurílio; BAHIA, Ruy B. C. - Bacias Sedimentares Paleozóicas e Meso-Cenozóicas Interiores CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/media/recursos_minerais/livro_geo_tec_rm/capII.pdf>

PRATES, Idelson; FERNANDEZ, Rodrigo. Bacia do Recôncavo- Sumário Geológico e Setores em Oferta. ANP- Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Disponível em: http://rodadas.anp.gov.br/arquivos/Round_13/areas_oferecidas_r13/Sumarios_Geologicos/Sumario_Geologico_Bacia_Reconcavo_R13.pdf

JUNÇÃO TRÍPLICE - SIGEP. Disponivel em: <http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/juncao_triplice.htm>.

Petrobras anuncia novo posicionamento; para entidades, confirma saída da Bahia. Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/petrobras-anuncia-novo-posicionamento-para-entidades-confirma-saida-da-bahia/

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